Já faz algum tempo que o mês de março se tornou um período de reflexão para mim, um momento para ponderar sobre o que já foi feito e o que está por vir.
Neste mês, me bateu um sentimento de nostalgia e lembrei a época que passei na terra do Sol Nascente, as lições que lá aprendi. Passei alguns meses, voltando num certo março há muitos anos atrás. Apesar de ter feito um curso numa área de engenharia, o período no Japão foi também de aprendizado em campos como economia, educação, história e cultura, e são algumas destas lições que quero aqui compartilhar.
Lá, aprendi que a imensa maioria da população se considera classe média, ouvi que esta taxa seria da ordem de 90%. Que lá se tem uma das menores discrepâncias entre os salários dos altos executivos e dos mais simples trabalhadores.
Aprendi que a educação é compulsória desde 1868, ano que houve a restauração da Dinastia Meiji, sendo este um dos mais preciosos valores daquela sociedade.
Talvez isto possa explicar que conceitos como honra e respeito ao próximo estejam tão enraizados no tecido social, de tal forma que não é incomum que até alguns corruptos venham a público pedir desculpas à sociedade, ou algumas pessoas cheguem ao extremo do harakiri como punição ou mesmo forma de protesto.
Lembro ter visitado um museu em Nagasaki, e ver um cartaz que mostrava de forma ampliada o panfleto que a força aérea americana havia jogado na cidade, depois da primeira bomba em Hiroshima, mas antes da segunda. Basicamente, o panfleto pedia à população que intercedesse junto ao Imperador para que assinasse a rendição, e mencionava os horrores já cometidos com a primeira bomba.
Aprendi que com a rendição, o Imperador Hirohito não apenas aceitava as condições definidas pelas forças aliadas, mas abdicava de seu status de “divindade encarnada”.
Aprendi que aquele povo, apesar de ser o único a sofrer os horrores da bomba atômica, não se considerava como vítima da guerra, pois reconhecia os males que havia perpetrado a seus vizinhos.
Aprendi que a guerra, apesar de toda destruição, trouxe um profundo sentimento de respeito e promoção da paz. Foi grande o aprendizado na terra do Sol Nascente…
Por alguma estranha razão, estas e outras lições me veem a mente nestes dias de março.
Sem dúvida, aquele país de pequena extensão, mas grande envergadura, é um dos principais exemplos a ser estudado, não como sociedade perfeita- pois reconhece estar longe disto- mas como modelo de reconstrução de nação, fundamentada em alicerces como Educação, Paz e Justiça.
Infelizmente, apesar de todo desenvolvimento humano, vários tipos de bomba foram inventados, alguns destroem a matéria e causam danos visíveis, outros são igualmente danosos mesmo sem gerar explícitos destroços.
Acredito que o país do Sol Nascente tenha muito a ensinar a todas as nações, principalmente a certo “gigante do sul” despertando de seu “berço esplêndido”.
Pois é, lembrando o maestro Tom Jobim, sinto que as águas de março não apenas fecham o verão, mas talvez possam “lavar alma” e trazer promessa de nova vida aos corações.
Fica para sua reflexão!